130 coisas sobre as quais escrever #2 [Texto de Eloise Gabriely Zacharias]


2. Você tem alguma superstição? Com o quê? Por que você a tem? E como lida com isso?

Meu nome é Rebeca, tenho 21 anos, moro em um pequeno bairro chamado Cachoeira, localizado na região de São José dos Pinhais. Quando eu era adolescente, meu pai me contou uma história que até hoje está nítida em minha mente. Era uma manhã de sexta-feira, eu estava sentada em minha cama olhando para um pequeno colar que possuía um olho grego, eu o tinha ganhado de minha mãe, quando meu pai bateu na porta do meu quarto e disse: — Tudo bem, minha filha? — Eu consenti com a cabeça. Ele então entrou e sentou-se ao meu lado, deu um suspiro profundo e disse: — Beca — era a maneira como ele me chamava. — Sei que esses últimos dias têm sido difíceis, a falta que sua mãe faz é terrível. Imagino que sua mente deve estar confusa, mas quero que saiba que independente de qualquer coisa, eu sempre vou estar ao seu lado te apoiando, te aconselhando e te dando toda a força para superar essa perda. — Eu olhei em seus olhos e, deixando uma lagrima cair, falei: — Papai... eu só queria entender o que aconteceu com a mamãe, ela era meio desengonçada, mas nunca foi nada sério!
Após eu ter falado isso, meu pai abaixou a cabeça e ficou calado. Passado quase um minuto de silêncio, papai levantou a cabeça e me contou uma história que minha mãe havia lhe contado. — Beca, sua mãe um dia me contou que passou por baixo de uma escada e isso a deixou muito preocupada. Sua avó era extremamente supersticiosa e sua mãe cresceu ouvindo que era para ficar longe de gatos pretos, nunca passar por baixo de escadas e, até mesmo, para tomar o máximo de cuidado para não quebrar espelhos. Sua avó afirmava com toda certeza do mundo que isso traria muito azar à sua mãe.  Portanto, quando sua mãe contou a ela o que havia ocorrido, sua avó ficou muito angustiada e com medo de que algo ruim acontecesse.
Rindo, eu disse ao papai: — Pai, eu não acredito nessas histórias supersticiosas. — Ele retrucou: — Eu também não acreditava, minha filha, mas coisas muito estranhas aconteciam com sua mãe. Uma vez um passarinho a atacou sem nenhuma explicação. Outra vez, ela caiu em cima de uma pedra e se machucou muito, e o mais estranho é que não tinha nada no caminho que a fizesse tropeçar. Eu, mais uma vez rindo, falei para papai: — Pai, mamãe só era um tanto desajeitada, nada além disso, e o ataque do pássaro deve ser porque ela tinha migalhas de pão no casado ou algo do tipo. 
 Meu pai olhou profundamente em meus olhos e, pegando em minha mão, falou: — Rebeca, você não está entendendo, eu não estou te contando uma história qualquer, sua mãe era muito azarada, não era algo natural. Estou te contando isso, porque quero que você evite essas coisas que possam, de alguma forma, te trazer azar. Por mais que você não acredite, eu peço que faça isso por mim! 
Eu o encarei de uma forma incrédula, não estava acreditando que meu pai era tão supersticioso, mas ele continuou falando: — Pense comigo, minha filha. Veja a maneira que sua mãe morreu, fazendo o almoço, após ter acertado uma veia com a faca enquanto cortava frango. — Minha mãe era mesmo muito azarada, mas não acredito que era por conta de ter passado por baixo de uma escada, porém resolvi respeitar a crença do meu pai. 
Com o decorrer dos anos, a dor da ausência de minha mãe foi diminuindo, mas aquela história que meu pai me contou se tornava cada vez mais clara em minha mente, até que comecei a pesquisar sobre fatos supersticiosos. Algumas dessas crenças eram bem bobas, pelo menos ao meu ver, mas com a morte de minha mãe e com as pesquisas que fiz, tentava de toda forma não passar por baixo de escadas. Em meu trabalho há uma escada enorme que leva ao segundo andar, embaixo dela tem uma máquina de café, na qual os funcionários sempre compram seu café, porém no segundo andar também tem outra máquina de café, e por mais que seja mais longe, eu sempre compro o meu lá, pois assim evito passar por baixo da escada.

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