Livro
Foi naquela tarde que ganhei algo que não sabia como usar. De tantos presentes e opções que minha avó tinha, deu-me justamente um livro. Ora! Mas para que eu usaria isso? Um mar de palavras insanas, uma história fictícia e lágrimas derramadas. Qual é esse gosto pela leitura que as pessoas tanto insistem em ter? Personagens dos quais a vida está nas mãos de um escritor, não é assim já a vida real? Não já estamos nas mãos de um destino perverso e realidade dura? Perder tempo lendo algo bobo e que ocupa espaço apenas mostra o quão desocupadas as pessoas estão. Tenho tantas coisas importantes a fazer! Tantos vídeos para assistir, tantas vidas na internet para cuidar. Leitura? É claro que tenho esse hábito. Se não soubesse ler, como veria as declarações de amor nas redes sociais de romances de um dia? Como passaria as tardes mandando mensagens e sabendo o que aconteceu na vida da minha vizinha?
Entretanto, a bem pensar, quão mal me faria algumas páginas fuçar? Não me parece tão ruim começar a desencadear uma aventura, mesmo estando em meu sofá. Um café quente, uma tarde fria e aquele livro na mão, talvez não seja tão ruim, foi um presente de alguém que amo e a faria feliz se por uma hora ao menos me submetesse àquilo.
Páginas abertas e uma essência diferente paira no ar, disputando minhas narinas com o doce aroma do café. As páginas exalavam aquele odor diferente, com um toque de leveza e acolhimento.
“Era uma vez”.
Sílabas, palavras, frases e parágrafos. A montagem de um mundo que eu nunca pensei existir. Sentimentos por um personagem que passou a caminhar no labirinto de emoções em meu coração. Os ponteiros do relógio pareciam acelerar junto com as horas, e o sol que já se punha num crepúsculo. A leitura fluía naquela mesma intensidade. O meu eu na realidade parecia desaparecer, por culpa de vidas novas e viagens que vinham de minha imaginação. Como era possível estar em tantos lugares sem sair do sofá? Viajar pelo mundo, conhecer novas culturas, estando parada no lugar? Eu era eu, mas eu também podia ser outras coisas em outros universos. Eu era bruxa, eu era a moça de uma família nobre em um século passado, eu era a guerreira que lutava na linha de frente, era a mulher que se apaixonou pela morte. Nos livros, eu era tudo o que queria ser e o que poderia acabar com isso?
O Fim.
Mas quem disse que precisa haver um quando se trata do universo da imaginação?
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