130 coisas sobre as quais escrever #37 [Texto de Milena Melo de Aguilar]


37. Nunca subestime a vida dos velhos sentados nos bancos dos parques.

Senti um forte cheiro de queimado, enquanto estava em mais um fim de semana em casa e sem a mínima vontade de me relacionar com qualquer ser humano, apenas na companhia de 4 cachorros e de intermináveis episódios de séries na plataforma da Netflix. Fui verificar de onde estava vindo o cheiro horrível e descobri que a pipoca que eu havia colocado para estourar havia queimado, meus dons culinários são realmente horríveis! Não me orgulho disso... eu não aguentava mais aquele cheiro horrível na casa, precisava sair. Então decidi levar meus cachorros para um passeio enquanto a casa ventilava. Peguei meu celular, o fone de ouvido, coleiras e os cachorros, é claro. Havia um parque perto da minha casa, então decidi ir lá passar o tempo, já que a tarde estava ensolarada. 
No parque tinha um lugar para deixar os animais livres, deixei eles lá se divertindo e cheirando os rabos uns dos outros e me sentei em um banco perto dali. Depois de aproximadamente 15 minutos, um senhor muito simpático se sentou ao meu lado e começou a puxar conversa. Como não tinha nada para fazer mesmo, comecei a conversar com o velho. Ele parecia uma daquelas pessoas fúteis que amam ficar jogando conversa fora em filas de ônibus e locais aleatórios, e até o momento eu tinha razão. De início, começamos a conversa sobre assuntos como o clima, mas depois de um tempo fomos “evoluindo”, com assuntos sobre nossas histórias de vida e a vida em si. Percebi que eu havia julgado mal aquele senhor e, apesar de nossas diferenças de idade, eu na verdade até me identificava de certo modo com ele.

Ele havia perdido sua querida esposa alguns meses antes por conta de um câncer de pulmão, ele a viu definhar até morrer. Encarar algum ente querido indo embora é uma das coisas mais difíceis que consigo imaginar, e encarar o amor da sua vida indo embora sem poder fazer nada deve ser pior ainda. Acho que isso é uma das coisas que possuíamos em comum, também vi o amor da minha vida ir embora algumas semanas atrás, ele não havia morrido, pelo menos não literalmente... embora eu preferisse que isso tivesse acontecido, pelo menos eu não estaria me sentindo tão insuficiente nesse momento, mas isso passa! Sempre passa! Relacionamentos são finitos... tudo é. Por mais que isso doa, é uma coisa que precisa ser enfrentada e, além disso, acontece com todo mundo. Não sei se essa é uma maneira fria de ver a vida, mas é o meu jeito de lidar com a dor e isso funciona para mim.

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