130 coisas sobre as quais escrever #77 [Texto de Abner da Silva Santos]


77. A última vez que você mudou de opinião sobre um assunto importante.

Mudar ou Não?

Num tempo não tão distante, havia um menino normal acomodado em seu mundo, lá no interior de São Paulo, em Caçapava, de onde ele nunca pensou que sairia. Como a maioria dos jovens, ele também estudava numa escola pública na parte da manhã, à tarde fazias os deveres que lhe eram ordenados pela sua mãe e à noite ia para a igreja, essa era a sua vida.
O tempo passa e a vida dele continua na mesma mesmice: escola, casa, igreja, escola, casa e igreja. Mas em um dia normal, sua avó, a Dona Glória, decide que a vida não pode continuar assim, então ela parte para São José dos Pinhais, no Paraná, dizendo que vai arrumar tudo e depois a filha e os netos deveriam ir também.

Chegando ao seu destino, a avó vê que o lugar é muito bom para morar e para crescer na vida, decide ir procurar o lugar certo para viver em paz e harmonia. Cansada de andar e já desistindo de procurar a casa ideal, decide entrar em uma última rua. Andando e sabendo que não iria achar a casa dos seus sonhos, avista uma senhora e decide ir falar com ela.
Conversa vai, conversa vem, sem intenção nenhuma a avó, já triste e sem esperança, diz: 
— Ah, minha filha, andei o dia todo procurando uma casa e não consigo achar nenhuma. 
Então a senhora responde:
— Por que você não falou antes? Essa casa do lado da minha está para alugar!
Quando a avó olha para a casa, fica maravilhada e, emocionada, diz:
— Eu não acredito, é a casa que eu estava procurando!
Dona Glória então decide ajoelhar e agradecer a Deus por ter lhe abençoado. A avó vai correndo falar com a dona da casa e, finalmente, ela tinha conseguido: alugou a casa.
Com tudo preparado, decide ligar para sua filha e como uma flechada em seu coração, escuta o seguinte argumento: “— Pare o seu fogo, mãe. Eu não vou para lugar nenhum, a minha casa é aqui em Caçapava”. 
A avó ficou desolada, mas como uma lâmpada que acende em sua mente, pensou: “Vou chamá-los para passarem as férias aqui, e quando eles chegarem, arrumo um jeito de não voltarem mais”.
Dona Glória tinha quatro netos, fora os de coração, isso é uma dadiva que poucas avós conseguem. Ela chamou todos os seus netos para irem passar as férias com ela. Abner, Rebecca e Abnoan chegam lá e todos se maravilham com a belíssima cidade.
Dona Glória, que não é nem um pouquinho boba, começa a tentar mudar as opiniões dos netos, dizendo:
— Vocês viram como aqui é legal? Muito melhor do que Caçapava. Venham, vamos ao parque, vocês vão adorar!
Com o passar dos dias, três dos quatro netos concordaram que ali era o melhor lugar para se morar. É aí que eu, Abner, entro na história. Para falar a verdade, eu gostei muito da cidade, mas eu era uma pessoa muito apegada e não queria sair de jeito nenhum, até o último momento eu lutei contra morar naquele lugar. Não teve jeito, quando é para ser, é. Hoje eu falo para você, leitor, que se eu pudesse voltar no tempo, escutaria minha vó na primeira vez.
Aos poucos até a minha mãe, dona Priscila, que batia o pé dizendo que não iria morar aqui, veio. Parece ser brincadeira, mas até a minha bisavó e o meu bisavô vieram, e para falar a verdade, foi melhor para todo mundo.
Eu que nunca quis e nunca pensei que estudaria em uma escola particular, hoje com muito orgulho digo que estudo no colégio SESI e faço curso no SENAI! E tem mais uma coisa: eu que nunca havia andado e sempre pensei que nunca andaria de van, hoje vou e volto da escola assim!
Hoje os meus irmãos têm um ensino de primeira e uma chance de crescer na vida, algo que não tinham na outra cidade, e os meus bisavós agora tem mais facilidade com os médicos e com medicamentos.
Não posso deixar de falar de uma das pessoas mais importantes para mim, a Dona Eloíza, mais conhecida como “Tia Lau”. Ela não mora aqui, mas está sempre nos ajudando, sempre mandando mensagens e, sempre que possível, vem nos visitar. Eu e minha família sempre oramos para que ela venha morar aqui conosco, porque é muito difícil para nós quando ela vai embora. Se você leitor, conhecesse ela, posso jurar que não iria querer mais sair de perto dela. Ela é uma pessoa extraordinária.
Você deve estar se perguntando: “e a dona Glória, o que melhorou para ela?”. Vou te dizer agora: desde muito pequena, minha avó sempre foi uma pessoa que sofreu muito, quando se casou pela primeira vez sofreu também e só uma coisa foi boa nesses anos de casamento, ela teve uma linda princesa, que hoje já é uma rainha, a minha mãe. Assim que ela se separou, um mal muito grande a atingiu, ela perdeu a cabeça, não sabia onde estava, quem era, não falava, não comia, andava de um lado para o outro sem saber de nada. Foi aí que Deus mandou “o príncipe de cavalo branco” para ela, o meu querido avô Maurício. Ela se tornou missionária e se você perguntar para Caçapava inteira quem é a Missionária Glória, eles sabem responder. Ela já viajou por quase todo o Brasil, e ainda quer viajar pelo resto do mundo pregando o evangélio.

Tirando a saudade da família, que é imensa, estamos todos maravilhosamente bem. Não me arrependo de ter tomado essa decisão, só me arrependo de não ter vindo para esse lugar antes.

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