130 coisas sobre as quais escrever #82 [Texto de João Gabriel da Silva Teodoro]


82. Estender uma "ação rápida" o máximo de tempo possível (ex. pagar o café, conversar com uma atendente de internet).

Estava em casa, assistindo às minhas séries na Netflix, só que havia um problema: estava travando muito. Quando percebi que o problema era a internet e resolvi ligar para a Central de Atendimento ao Cliente. Quando atenderam, uma voz doce veio aos meus ouvidos, deixando-me estranhamente impressionado, quando, sem querer, perguntei “Quem é?”. Sim, pois é, aquela linda voz delicada me encantou tanto que acabei esquecendo o que eu realmente queria. 
A linda voz me respondeu educadamente que era da internet. Fiquei tímido e sem jeito para responder, mas resolvi fingir que nada tinha acontecido. Comecei a falar dos meus problemas com a internet, mas era muito bom aquele “carinho sonoro” (pode existir essa expressão, produção?). Percebi que fui muito além, e comecei a falar do problema da série da Netflix, a razão por eu ter ido assistir séries, os problemas do dia, falei como eu estava nervoso e muito impaciente... Enfim, me encantei tanto com aquela voz, que me deixei levar pelo gosto de ouvi-la, mesmo com ela perguntando apenas “por quê?”, aquela ligação estava sendo uma terapia.

Até que enfim, ela me cortou e começou a falar de si, confirmando os meus problemas e falando dos seus, mostrando para mim que muita coisa que eu sentia era normal. Eu descobri sua cidade, sua idade, e que coincidência, eram as mesmas que as minhas, aumentando ainda mais a minha empolgação. Descobri também do que ela gostava, porque ela estava ali, e assim foi, durante 2 horas e 43 minutos. Deixamos o problema da internet por último, aliás, ali percebi que uma ligação poderia mudar toda a minha programação e me deixar bem mais feliz do que um simples episódio de “Gossip Girl”. 

Aquela era uma grande amiga e, apesar de não a conhecer, a mesma me acalmava de uma maneira intensa e forte. Simplesmente minha série, pausada pela falta de internet, volta a ser transmitida em minha televisão e eu animadamente conto a novidade para a atendente de voz doce, que reage da mesma maneira, mas que em questão de segundos, fica triste novamente e fala que seus serviços já não parecem mais úteis. Com êxito, peço seu telefone, anoto e ouço que ela tinha terminado sua carga horária e que precisava ir para casa. Despede-se, pedindo para receber uma ligação nova quando necessário. Quem disse que eu aguentei? Três horas se passaram desde aquela ligação, não me contive e liguei para ela, que prontamente me atendeu com um animado e irônico “Oi, há quanto tempo...”. Dessa vez a ligação durou muito mais tempo, as horas eram minutos e, até mesmo no banho, eu não largava do telefone (cá entre nós, acho que ela também não). Se passaram 11 anos, moro em uma singela cidade, tenho uma filha de 8 anos e sou casado com a mulher mais incrível e com a voz mais doce com quem eu já falei. Quem imaginaria? Uma ligação se transformou em uma linda paixão.

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